Capítulo um

O relógio apitou. Sete e meia da manhã, e Maya não havia pregado os olhos por um segundo sequer. As madrugadas podem ser perfeitas. Isso depende do quão em paz você está. Você pode usa-la para ler um livro, escrever uma história, ou fazer amor com quem você ama. Em contra mão, você pode usa-la também para se embreagar e chorar até seu corpo inteiro feder a vinho barato fazer e seus pensamentos se tornarem paranóias sem dificuldade alguma. Não preciso nem dizer que Maya se encontrava na segunda opção.

Theo havia mandando mensagens, muitas mensagens, e ela lia atentamente cada uma, e em seguida, as ignorava. Não era maldade, aquilo não alimentava o seu ego ou fazia com que a moça se sentisse má. Ela apenas estava poupando o tempo dele. Maya não era de voltar atrás com suas decisões, e com certeza qualquer outra voltaria por um garoto como Theo, mas não ela.

Eles haviam se conhecido em uma festa, o rapaz perguntou se podia lhe pagar uma bebida e ela sorriu. Poderia firmemente dizer que apenas aquele sorriso foi suficiente para fazer o coração do rapaz bater mais rápido, como um solavanco. Maya o encarou no fundo dos olhos antes de dizer as primeiras palavras.

— Está festa é open bar. — e assim, a jovem saiu, indo em direção a cozinha, onde se encontrava as asinhas de frango frito e as cervejas da festa. É óbvio que ele foi atrás, quem em sã consciência não iria?

— Desculpa, não tive tempo pra pensar em uma boa cantada, então achei que se usasse a moda antiga conseguiria fazer com que você falasse comigo. — ele foi honesto, e aquilo intrigou a garota, que tombou a cabeça pro lado, analisando o rapaz de cima a baixo.

— Eu prefiro os originais. Cantadas pra mim são como piadas. Eu não gosto de piadas, a não ser que seja humor negro, ai sim você vai conseguir tirar de mim boas risadas. — ela disse, tirando a tampa da garrafa de cerveja como quem arranca a pétala de uma rosa.

— Certo, pode me dar algum tempo pra estudar? Quem sabe da próxima vez eu consiga ser original o bastante pra te convencer a sair comigo. — ele disse.

— Sair para onde? — ela perguntou.

— Não sei, quem sabe uma festa. — deu de ombros.

— Já estamos em uma festa. — ela sorriu, virou as costas, e foi até o jardim pelas portas dos fundos.

— Merda, eu não acerto uma. — ele disse, ela ouviu, e deu risada.

Aquelas lembranças fizeram Maya sorrir, e em seguida, seus olhos se enxeram de lágrimas. Mas não era por Theo, ela queria que fosse, queria que se arrependesse de dizer a ele que não o amava, queria voltar correndo para a ponte que se encontraram na noite anterior e gritar para ele o quanto ela estava errada e o quanto queria tentar algo por ela, mas ela não conseguia. Suas lágrimas era de angustia. Ela realmente não sentia nada. Maya e Theo foram ao cinema, e á alguns pubs, fizeram piqueniques, passaram uma tarde em uma biblioteca, conversaram sobre fisica quântica e atrologia, trocaram alguns beijos e até foram a algumas festas, mas nada, absolutamente nada, fez com que ela se apaixonasse pelo rapaz. Talvez eles pudessem ser amigos, mas isso não faria com que Theo sofresse menos.

Na noite anterior, havia recebido uma mensagem. "Me encontre na ponte perto do lago. É urgente. Por favor!" Quando leu a mensagem de texto, é óbvio que a garota entrou em pânico e correu até o lugar marcado, mas vendo as mesmas palavras agora, ela deveria ter desconfiado de algo. Theo detestava aquela ponte, se quisesse ver Maya iria até a sua casa, e não mandaria um texto. Theo nunca dizia por favor.

Acontece que quando Maya chegou até a ponte, Theo estava com um buquê de girassóis nas mãos, as flores preferidas das garotas — lê-se as únicas que ela gostava de fato —. Ele não a deixou falar por um segundo sequer. Disse que amava como o cabelo dela balançava quando o vento batia, que suas sardas no rosto eram lindas e que amava o fato dela não usar maquiagem para cobri-las, que amava como ela abria garrafas de cerveja, não conseguia parar de rir depois da segunda garrafa de vinho ou quando falava palavrões. Ele fez um discurso sobre todos os detalhes mais encantadores que a garota tinha, mas quanto mais Theo metralhava palavras contra Maya, mais culpada ela se sentia. E então o pedido veio. E ela deu um passo pra trás. E Theo assumiu um olhar preocupado. E seu sorriso sumiu. E Maya cobriu a boca. E o não veio em seguida. E o buquê caiu no chão. E Maya deu as costas para o garoto que acabara de se declarar. Os passos rápidos vieram e o barulho do forte coturno ecoou. E mais um coração foi partido. E por mais uma vez, Maya se odiou.

Agora, faltando exatamente uma hora para ela entrar no colégio, ela pensou em como seria encara-lo. Pensou se ele iria. Se perderia alguns dias de aula. Se mudaria os horários para nunca mais ficar na mesma sala que ela. Provavelmente a resposta era sim, mas ela concordava que era o melhor a se fazer. Maya sempre concordava que se afastar dela era o melhor a se fazer.

Levantou da cama e sua cabeça latejou, a tontura veio. Maldita ressaca. E com o que se cura a ressaca? Com mais bebida. Maya entrou no box do banheiro, tomou um banho, lavou os cabelos, escovou os dentes e vestiu a mesma roupa de sempre. Calça preta, regada branca, um colar com um pingente em forma de chave que ganhara do seu avô, e é claro, coturnos. Antes de sair, se despediu da sua mãe, pegou uma garrafa de cerveja na geladeira e o maço de cigarro encima do sofá. Decidiu ir caminhando, e no caminho, parou pra comprar outra garrafa de cerveja. Chegou no colégio atrasada, como sempre.

— Você veio pra escola bêbada? — Anne, sua melhor amiga, falou, olhando o estado da amiga.

— Não estou bêbada. Só tomei duas cervejas. — ela disse, dando de ombros enquanto guardava seus livros no armário.

— Certo. Você bebeu duas garrafas de cerveja durante a manhã, antes de vir a escola. Maya, tá tudo bem? Por que, sério, você não é tão porra louca assim. — a amiga falava, e falava, e falava, e Maya apenas ouvia quieta. Anne era uma verdadeira matraca, se ninguém lhe interrompesse ela seria capaz de falar por horas, talvez por isso era tão boa em redações.

— Eu dei um fora no Noah ontem. Não consegui dormir, bebi muito ontem a noite e acordei com ressaca, é isto. — ela disse, simples e prática.

— Você ficou com ressaca então decidiu beber mais, ótima ideia... PERA AI, O QUE? VOCê DEU UM FORA NO NOAH? — a loira gritou.

— Será que dá pra não gritar? A minha cabeça vai explodir. E eu também não quero que o colégio inteiro saiba. — ela reclamou.

— Tá, desculpa. Agora me conta. — e Maya contou. Detalhe por detalhe, e pela terceira vez em menos de um dia, se sentia arrasada por machucar alguém que não conseguia amar. Mais uma vez.

Between the bars - Sinopse e Prologo.

Quase ninguém vai a uma festa para conhecer pessoas, a maioria vai para esquecer. Não que Maya fosse diferente, mas ela tinha uma facilidade absurda de descartar pessoas que já não se encaixavam mais em seus padrões e que não cumprissem mais as suas necessidades, mas não era por mal, afinal, ela nunca tinha se apaixonado, diferente de Noah, um jovem popularmente conhecido na cidade entre as garotas pela quantidade de namoradas que já teve e pela aparência encantadora. Noah tinha tudo pra agir como um babaca, mas estava numa busca incessante pelo amor da sua vida. Duas almas e personalidades diferentes, o despertar de um sentimento novo em Maya, e não tão novo em Noah. Intrigas, ciúmes, orgulho e uma incontrolável paixão. Dois adolescente buscando alguém pra despejar suas vontades. Procurando algo para saciar suas fomes, quer que sejam em bocas de garrafas, ou de pessoas.



PRÓLOGO

A brisa fria de outono balançava calmamente os cabelos da jovem morena. Pouco mais de meia noite, um horário um pouco tarde para uma garota tão nova estar fora de casa, mas não era assim que ela pensava. A sola de seus inseparáveis coturnos batiam firmemente contra a calçada, fazendo um barulho incomodo, enquanto Maya caminhava até o bar mais próximo. Sentia um peso enorme sobre suas costas, já que acabara de partir mais um coração. Dessa vez, o jovem Theo, um garoto um pouco mais velho que ela, bonito, inteligente e dono de belos olhos verdes. Maya não entendia o porque de não achar ninguém suficiente para ela, e de certa forma, isso lhe deixava incomodada. O amor não é pra mim, ela dizia repetidamente em sua cabeça, disposta a parar de arranjar namorados sem ter certeza do que realmente sentia, mesmo que em toda sua vida tivesse tido apenas quatro romances, mas quatro corações despedaçados já era o suficiente para fazer a jovem se sentir insuficiente. Avistou um bar no final da rua e caminhou até o mesmo. Assim que entrou, o cheiro de cigarro, álcool e madeira velha a fez se sentir tonta. O lugar estava cheio de adolescentes que deveriam ter entre 16 e 19 anos, não mais do que isso. Sentou-se numa cadeira próxima ao balcão e pediu um copo wisky, sua bebida favorita, e recebeu em troca um olhar não muito aprovado do garçom, mas o mesmo não disse nada, apenas atendeu o pedido da moça, que passeava os olhos por todo aquele lugar. Maya gostava de coisas diferentes — ou acabadas e feias, melhor dizendo — e aquele lugar de fato lhe agradou. Ela fez uma nota mental de que voltaria ali mais vezes, talvez quando não quisesse esquecer mais uma briga, para poder apreciar o lugar e as bebidas com calma. Levou o copo até a boca e sentiu sua garganta queimando quando a bebida forte desceu. Jack Daniell's, seu favorito. Maya balançava o restinho de bebida e gelo que tinha no copo, enquanto seus pensamentos voavam para o motivo que lhe fez sair de casa essa noite. Mais um término. Por que ela machucava tanto as pessoas?
Do outro lado da cidade, um jovem loiro, de olhos azuis e um sorriso torto ria descontrolavelmente com seus amigos. A bebida já tinha feito efeito a tempos, e palavras emboladas e sem sentido saiam da boca de Noah, enquanto seus amigos zoavam o estado do rapaz.
— Eu nunca mais, nunca mais, vou arrumar uma namorada loira. — ele dizia, se referindo a Elena, sua mais recente ex-namorada.
— Eu duvido, Hale, eu duvido. — dizia um dos amigos, chamando o rapaz pelo sobrenome.
— Eu.juro. Nunca.mais. — Noah falou,  dando uma pequena pausa entre cada palavra.
— De fato, as ruivas são as melhores. — falou Justin, seu melhor amigo, enquanto abraçava uma garota de cabelos vermelhos desconhecida que havia levado para a festa.
— Talvez você pare de sofrer por garotas quando aceitar que não nasceu pra amar, Noah. — Natasha falou, e seus olhos azuis se encontraram com os castanhos da moça. A bebida deixava seus pensamentos mais confusos, mas de qualquer forma, Noah se questinou por um momento. Será mesmo que ela estava certa? Desviou o olhar, não queria demonstrar seu incomodo com aquelas palavras, e voltou a atenção a garrafa de vodka quase vazia. Pegou a mesma e saiu caminhando pelo campo, após se despedir de seus amigos. Ele não se lembra exatamente como foi parar lá, mas quando acordou no dia seguinte em seu quarto, o jovem só se lembrava da frase que sua amiga havia lhe dito na noite anterior. Levantou-se da cama, dessa vez, decidido a nunca mais dizer sim pro amor novamente.

One Shot - Isa e Cameron

O que era pra ser um dia normal, estava sendo um dos piores da minha semana. Duda não atendia minhas ligações desde que brigou com o Shawn, que também não saia do quarto desde o desentendimento dos dois, acordei vinte minutos atrasados e perdi o primeiro horario e acabei levando uma advertência do coordenador. Minha mãe provavelmente iria pirar.

Soltei um suspiro aliviado quando o sinal do ultimo horario tocou. Otimo, só preciso ir pro teatro e depois vou pra casa dormir e esse dia horrível vai passar.

Assim que entrei no teatro avisei meus colegas de longe, entre eles Cameron e Alicia. Abaixei a cabeça assim que vi que os dois se divertiam. Eu nunca seria igual ela, e ele nunca teria olhos para mim. Quem sou eu perto dela? Ninguem. Uma bolsista de notas medias que nunca consegue arrumar um namorado,

- Será que você pode me explicar essa cara desanimada? - Vivian me perguntou, ela era a unica pessoa do teatro que não fazia piada com a minha cara.

- Não estou num dos meus melhores dias. - respondi.

- Então todos os dias da sua vida devem ser pessimos porque você sempre ta feia. - Alicia falou e todos iram, inclusive Cameron.

- Ela disse desanimada e não feia garota. - não sei de onde tirei coragem pra afrontar ela.

- Cala essa sua boca pra falar comigo ou eu faço meu pai te expulsar da escola Isamara. - ela disse e meus olhos se encheram de lágrimas.

- Isa você não vai chorar aqui na frente de todo mundo não né? - Cameron falou preocupado.

- Não liga amor, deixa ela chorar. - Alicia falou, e ele assentiu.

- Eu posso ser feia, posso ser desanimada mas eu nunca precisei pisar em ninguém pra me sentir bem, e muito menos sou um cachorrinho da filha do diretor da escola so pra ela não dedurar minhas babaquices. Nesse teatro eu não fico nem um minuto. - enxuguei meus olhos e sai pisando firme, assim que sai na porta dei de cara com Duda.

- Isa, o que aconteceu? - ela me perguntou.

- Nada. - respondi dando um sorriso muito forçado.

- Te conheço o suficiente pra saber que aconteceu algo, você tava chorando. - ela disse.

- Por que se importa? Você nem ta falando comigo. - eu disse.

- Dois dias sem falar com você não diminuiu minha amizade por você Isa, me fala o que houve? - ela disse me abraçando e me sentando no sofá que tinha no canto, se sentando do meu lado depois. Contei tudo a ela.

- Isa, sabe o que eu acho? - neguei - que você deveria falar pro Cameron tudo que você sente logo agora.

- Pra que? Pra ele tirar sarro da minha cara Duda? fala sério. - falei.

- Isa, eu conheço o meu irmão e sei que ele não vai te zuar por sentimentos, ele só é assim quando ta perto dos amigos babacas dele, ele precisa saber que tem alguém que gosta dele de verdade, alguém por quem ele seja capaz de mudar e eu acho que ele faria isso por você. - ela disse enxugando minhas lágrimas.

- Você acha que ele faria isso? - perguntei.

- Eu tenho certeza Isa, ele sempre fala bem de você lá em casa, você vê que na frente dos seus pais ele nunca te tratou mal, porque ele não tem ninguém forçando ele a ser o que ele não é. Ele gosta de você também, se você se declarar pra ele, vai saber o que ele também sente.

- Certo, eu vou contar. - falei.

- O.k, agora vamos voltar lá pra dentro. - ela disse se levantando.

- Não Duda, eu disse que não ia mais entrar lá. - falei com medo.

- Isa, anda logo. - ela me puxou.

Entramos no teatro e eu fui atrás dela, passando a mão por meus braços.

- Olha só, lá vem a loirinha se escondendo atrás da amiga barraqueira. - Alicia disse.

- Alicia, você pode achar que pode humilhar a Isa porque ela não revida mais saiba que comigo não é assim, eu não vou pensar duas vezes em rodar a mão na sua cara. E outra coisa, não se esqueça que seu pai é diretor da escola mas não é diretor do teatro, e que eu saiba, eu sou a lider daqui, então não vou pensar duas vezes em te expulsar e ver você ficar em recuperação se eu ver você fzendo brincadeiras com a Isa de novo. - Duda falou e ela assentiu.

Dei um sorriso calmo quando vi que ela abaixou a crista perto da minha amiga, gosto quando ela me defende. Ensaiamos pra peça que vamos apresentar semana que vem, Duda ficou muito desconfortável quando teve que atuar com o Shawn, e eles decidiram não ensaiar a cena do beijo hoje, porque segundo ela é algo desnecessário porque não tem como dar errado, e o Shawn descordou o que acabou gerando uma grande briga, e assim, ela liberou nós pra irmos embora mais cedo.

Estava sentada ao lado do meu irmão quando ela caminhou até nós.

- Isa, agora é sua hora. Liberei todo mundo mais cedo pra você ter tempo de falar com ele. Não tenha medo, nada de ruim vai acontecer. - ela disse, Shawn olhava pra ela com os olhos lacrimejando, notei que ele sentia falta dela, e ela também sentia a dele.

- Onde ele está? - perguntei.

- No camarim, arrumando os figurinos no lugar. - ela respondeu.

- Certo, to indo até lá. - falei e me levantei, deixando minha melhor amiga e meu irmão lá, totalmente desconfortáveis, mas eles também tem muito pra resolver.

Bati na porta e ele abriu.

- Oi Isa, entra. - falou sorrindo.

- Não vai me humilhar nem me xingar? - perguntei.

- Porque eu faria isso? - perguntou.

- Por que é o que você sempre faz, pelo menos na frente dos seus amigos. - falei e ele abaixou a cabeça envergonhado.

- Sabe Cameron, toda a minha vida eu te tratei bem, eu lembro que eu te defendia quando eramos pequenos e ai os garotos batiam em nós dois, apanhavamos juntos, mas pelo menos eu tava do seu lado, eu lembro das sessões de cinema, eu lembro do dia que o Shawn falou pra nós dois que gostava da Duda e planejamos um surpresa pra ela e ela apareceu na porta de casa beijando o Josh, eu lembro de nós dois consolando o meu irmão, eu lembro de quando você me ensinou a patinar, e eu lembro quando você começou se afastar de mim, eu lembro de quando você fez amizade com os populares, e lembro quando você me deixou. Eu lembro que eu estava completamente apaixonada por você e eu sei que eu sou até hoje, e eu faço de tudo pra te mostrar isso todos os dias mas você nunca me nota. Eu lembro de quando você me falou que queria uma garota que te ajudasse a ser alguém melhor, e que te ouvisse, que cuidasse de você e se preocupasse, bem, eu me preocupo, eu posso cuidar de você, eu sou tudo que você precisa, ou eu era, mas você nunca percebeu, ou nunca quis perceber Cameron. Eu sempre estive aqui mas eu nunca fui o suficiente pra você e saber disso me quebra todos os dias. Eu só queria te dizer tudo isso pra não me sufocar mais. - comecei chorar e dei as costas. Sem esperar, Cameron me puxou pelo braço me fazendo virar pra ele, e me beijou. Um beijo lento, o beijo que eu tanto fantasiei na minha vida, assim que terminamos ele enxugou as minhas lágrimas e sorriu.

- Você é suficiente pra mim. Me deixa tentar ser suficiente pra você também? Deix eu te recompensar por todo esse sofrimento? - ele pediu e eu assenti, chorando e sorrindo ao mesmo tempo. Então ele me beijou de novo.

Saímos do Camarim de mãos dadas e eu vi que tanto a Duda como o Shawn choravam muito.

- Isa, vamos? - Shawn perguntou.

- Ah cara, eu vou levar ela hoje. - Cameron disse.

- Certo. - ele disse, pegou o casaco e saiu. Duda olhou pra ele até ele sair pela porta, e começou chorar mais.

- Eu vou indo. - ela disse pegando sua jaqueta e saiu.

- Que estranho. - eu falei.

- Sim. Mas não vamos pensar nisso, já sei, vou te mostrar algo. - ele me puxou pelas escadas do teatro até a cobertura do prédio. o céu estava lindo, cheio de estrelas e uma lua maravilhosa, sorri com a vista e ele me abraçou por trás.

- Eu vinha aqui e ficava pensando no que eu me tornei, eu sinto vergonha de quem eu sou agora, mas eu sei que nesse momento eu estou explodindo de felicidade porque tem uma garota que conhece todos os meus defeitos e me ama mesmo assim, e eu vou lutar por essa garota. - ele falou e eu sorri, e assim ele me beijou de novo.

Descobri daquele momento, que dias que começam ruins, podem terminar com noites ótima.

Ocean Eyes

Harry p.o.v.'s

Três e vinte e cinco da manhã e Eduarda não calava a boca. Só sabia me culpar e me culpar por termos ido parar em um hotel em Brignton, já que a essa hora já devíamos estar em Manchester. Mas a culpa não era minha se o trânsito estava horrível e se demoraria mais quatorze horas pra gente chegar lá, e eu não queria passar o natal dirigindo um carro com uma garota louca ao meu lado gritando a todo tempo.

- Você é a pessoa mais irresponsável que eu conheço. - ela disse, pondo as malas em um canto qualquer do quarto.

- E você é a pessoa mais chata que eu conheço, seria tão bom se você calasse a boca. - falei, já irritado.

- Eu não vou calar a boca, e você vai ter que aguentar. Se você não fosse um idiota a essa hora você estaria maravilhosamente bem com sua família e eu estaria em um show maravilhoso curtindo, mas você é pateta demais pra isso. - ela disse, reclamando mais ainda.

- Eduarda, não me obrigue a calar sua boca de um jeito que você não gosta. - eu falei, e ela se calou no mesmo instante. - Meu beijo é tão ruim assim? - perguntei.

- Não sou capaz de opinar. - ela disse, tirando o casaco e jogando em cima da cama. - Só tem uma cama de casal nesse quarto, o que significa que você dorme na poltrona ou no chão. - ela disse, com um sorrisinho no rosto, ela estava mesmo rindo? 

- E se eu não quiser? - perguntei, tirando minha camisa de mangas compridas e me jogando na cama, enquanto ela ligava a televisão.

- Ai você pode dormir no carro, não tem problema. - ela acendeu um cigarro e abriu a janela, se sentando na mesma, e um medo dela cair lá de cima veio.

- Eu durmo onde você quiser desde que você saia dai. - falei.

- Que? - ela falou, com o cigarro pendendo os lábios. Odeio quando ela fuma.

- Sai daí de cima, ou você vai cair. - falei, me levantando, já desesperado.

- Cair? - assenti - Assim? - ela jogou o corpo um pouco pra trás, mas segurou as mãos na grade e impulsionou o corpo pra frente de novo. Meu coração foi na boca e voltou umas três vezes.

- VOCÊ É LOUCA? - gritei já vermelho de preocupação, e a doida ria sem parar. Peguei ela no colo e joguei na cama, fechando a janela em seguida, ela continuava rindo, com as mãos na barriga e o cigarro entre os dedos. Me sentei na poltrona furioso.

- Tadinho ele ta preocupadinho comigo, até parece que você se importa Styles. - ela falou, tirando o calça ficando de calcinha na minha frente. Não consegui desviar o olhar. - Para de olhar pra minha bunda. - falou, mesmo de costas. Soltei um risinho leve e olhei pro lado.

- Eu me preocupo sim. - respondi, com os olhos fechados.

- Uhum. - respondeu, vestindo os shorts jeans inseparáveis dela, tirando a blusa e ficando apenas de sutiã. Ela queria me matar?

- Você que acha que ninguém se importa com você. Não tem nem ideia da importância que tem pras pessoas. - falei.

- Eu tenho sim, pra algumas. É fácil pra mim saber o que as pessoas pensam na maioria das vezes. Porém... outras já se tornam mais difíceis.

- Comigo é fácil ou difícil? - falei, me levantando, indo até ela, que estava escorada em pé no batente da porta.

- Difícil. - respondeu, simples, jogando o cigarro longe.

- Por que? - perguntei.

- Meio difícil decifrar esses seus olhos de oceano. - falou, enquanto abria minha mala e pegava uma blusa minha, que nela ficava gigante, e fazia um coque bagunçado no cabelo, com alguns fios caindo no rosto.

- Por que? - perguntei de novo.

- Só sabe perguntar por quê? - ela respondeu, irritada. Eu amava o jeito que ela se estressava fácil.

- Por que? - dessa vez recebi um soco no ombro. Violenta. Não doeu nada.

- Ai que dor. Alguém me leva no hospital. Que dor. Vou perder meu ombro. Chamem a ambulância. - falei, fazendo cena.

- Vai brincando, um dia eu coloco veneno na sua comida. - respondeu.

- Você me ama.

- Isso foi uma pergunta ou uma afirmação? - perguntou.

- Afirmação. - falei.

- Sua afirmação está incorreta. - respondeu. Se eu não conhecesse aquela garota a insuportáveis dois anos diria que ela estava mentindo. Mas sabia como sua voz ficava séria, seus olhos mais fechados e como ela demorava alguns segundos antes de mentir. Eu a conhecia perfeitamente bem.

- Está incorreta ou você é orgulhosa demais pra admitir que sou importante pra você? - perguntei.

- Styles, o que te faz achar que é importante pra mim? - ela disse, se virando enquanto pegava uma garrafinha de água. Caminhei lentamente até ela, seus olhos ficavam confusos a cada passo que eu dava. Lhe surpreendi quando lhe peguei pela cintura e coloquei sentada encima da mesa. Sua respiração acelerou e ela se arrepiou, passei meus lábios por seu pescoço enquanto suas mãos pairavam em meus ombros.

- Porque você se entrega totalmente a mim, sem perceber, quando eu toco em você. - falei, com os olhos fechados, aspirando seu cheiro.

- Não é verdade. - ela falou, com a respiração falha, e a voz calma, como em um sussurro.

- Porque você gosta tanto do meu cheiro que dorme com minhas camisetas. - ela fincou as unhas em meus ombros quando falei isso. - Porque você poderia estar com sua família ou sua melhor amiga agora mas prefere passar a noite de natal em um hotel de quinta comigo. - falei, passando a mão por sua cintura.

- E porque você não cala a boca e me beija? - ela disse, e assim eu fiz. Rocei meus lábios nos seus, pedi passagem e ela cedeu. Explorei cada canto da boca dela, nossas línguas travavam uma guerra, e eu queria ganhar. Eu acariciava cada parte do seu corpo, arrancando suspiros dela, enquanto ela passava as unhas gigantes tonalizadas de preto por meus braços, ombros e costas, vezes ou outras por minha nuca, deixando a marca por minha pele branca. Paramos o beijo pela necessidade de oxigênio.

- Ainda tem dúvidas de que você me ama? - falei e ela sorriu, mas abaixou a cabeça.

- E você? - a encarei confuso - Você me ama? - perguntou e eu sorri.

- Desde o dia em que você entrou na frente daqueles caras gigantes pra me defender. - falei e ela sorriu. A peguei no colo e joguei na cama, me deitei ao seu lado e ela pôs a cabeça em meu peito. - Me desculpa por fazer você passar o natal aqui, amanhã te recompenso. 

- Eu não poderia estar em lugar melhor. - ela disse antes da respiração pesar e ela adormecer. Meu presente de Natal havia chegado cedo esse ano.

Imagine Liam e Isa

Liam p.o.v's 


Apertei mais o casaco em meus braços, fazia frio em Londres, e eu procurava um lugar aberto as duas da manhã pra tomar um café. Desisti depois que percebi que já havia se passado uns quarenta minutos em que eu caminhava. Era noite de natal. Eu devia esta com minha família, na minha cidade natal, ao redor da mesa, cantando aquelas músicas chatas e ouvindo meus tios contarem histórias engraçadas, mas abri mão disso pra vir ver minha menina. Mas claro, o Sr. Liam aqui nunca faz nada certo, e a noite que era pra ser especial, se tornou um completo caos.

Meu ciúme idiota me impediu de estar com a única pessoa que eu queria nesse momento. Não foi nem um pouco fácil ver ela abraçada com aquele cara da faculdade dela, mas Isa era meiga, simpática, cativante. As pessoas queriam ela por perto. Ele queria ela por perto. Eu também queria. Era tarde demais.

Hora dessa ela estava em seu pequeno apartamento, comendo alguma torta ou bebendo algum chocolate quente, assistindo algum programa de TV, filme, série ou com a cara metida nos livros da faculdade. Sozinha. Tudo isso porque eu prometi pra sua melhor amiga que eu tomaria conta dela nesta noite, enquanto ela viajava para algum lugar por ai com Harry. Minha cabeça latejou só de imaginar os gritos e as broncas de Duda quando ela chegasse e soubesse que eu deixei a Isa sozinha nessa noite. Admirava muito a amizade das duas. Era como a Isa fosse o freio da Duda, impedindo que ela faça suas burradas. Duda costuma ter péssimas ideias. Ótimas intenções mas péssimas ideias. E a mesma tinha um instinto protetor pela Isa como uma leoa que quer proteger seus filhotes. Yin e Yang.

Desisti de caminhar, me sentei em um banco qualquer na praça. Ajeitei minha touca e esfreguei uma mão na outra, coberta pelas luvas. Nevava muito, e eu não me lembrava mais de onde havia estacionado o meu carro, mas sei que era a muitos e muitos quarteirões daqui. Eu estava basicamente perdido na cidade que conheço como a palma da minha mão, mas esse não era o meu maior problema no momento. Peguei meu telefone, estava sem sinal, ótimo.

- O que um moço bonito faz a essa hora, em dia natal, sozinho, numa praça fria? - uma senhora me questionou, me assustei com a presença dela, não tinha a visto chegar.

- Meus erros me trouxeram até aqui. - respondi, com um sorriso franco no rosto, apesar da minha vontade ser fazer o oposto.

- Que erro? Quer me contar? - falou se sentando ao meu lado.

- Meu erro tem lindos cabelos loiros e longos, olhos claros e um lindo sorriso. Tem mais ou menos vinte centímetros a menos que eu, e é tão frágil que me faz achar que vou quebra-la ao meio quando toco nela. - falei, e meu sorriso se aumentou ao falar dela.

- Tem certeza que ela é um erro meu jovem? Você me fala tão bem dela que me faz pensar que foi o melhor acerto na sua vida. - as palavras dela me fizeram refletir.

- Não sei. - respondi.

- Se me permite dizer, talvez seu erro, seja trata-la como erro, e não perceber a sorte que tem de ter a bela jovem ao seu lado. - ela disse.

- A senhora tem razão... Mas não sei se há algo que eu possa fazer, ela está muito magoada comigo, tivemos uma briga feia e bem, eu não sei o que fazer. - falei.

- Você sabe, só não está claro. Desligue sua mente por um momento e deixe seu coração falar mais alto. Tome, isto é pra você entregar a ela - ela me entregou um buque de rosas vermelhas. Pequenos flocos de neve caiam por cima.

- Mas, isto é da senhora, não posso aceitar.

- Pode sim. Eu iria colocar em algum vaso na minha casa, mas ela tem destino melhor do que ficar em uma sala. - respondeu, sorridente.

- Mas a senhora iria enfeitar a sala com elas, não sei se devo aceitar. - falei.

- Acredite meu caro, eu já tenho o melhor enfeite na minha sala. Meu marido. Hoje faz trinta anos que o mesmo me pediu em casamento. Não tem flor que deixe o ambiente mais lindo do que ele. Não tem flor que deixe minha vida mais linda que ele. - ela disse, com um brilho nos olhos que me fez marejar.

- Qual o nome dele? - perguntei.

- Lírio, o nome dele é Lírio. Agora vá, está tarde, e não queremos que sua namorada durma e não abra a porta pra você. 

Me pus de pé com o buque nas mãos. Me virei pra agradecer a velhinha, mas ela não estava mais lá. Olhei ao redor, não consegui enxerga-la. Sorri, apesar da estranheza. Corri por quinze minutos até achar meu carro. Confesso que foi extremamente difícil dirigir com toda aquela neve na cidade, mas em pouco tempo consegui chegar no pequeno prédio onde Isa morava. Subi as escadas do fundo já que a essa hora a recepção já estava fechada. Bati na porta, na terceira batida Isa abriu. Lá estava ela. O cabelo em uma trança lateral. Os olhos vermelhos e inchados. Aquele pijama branco de bolinhas rosa que ficava perfeito nela, e suas pantufas de coelhinho.

- Liam, o que você ta fazendo aqui? Ta tarde. Eu não quero discutir hoje, amanhã você vem aqui pra gente brigar mais. - ela ia fechar a porta, mas graças a minha força eu consegui impedir.

- Eu não quero brigar Isa, eu não quero brigar nunca mais com você. - respondi, ela me olhou assustada.

- Que? - perguntou.

- É pra você. - entreguei as flores.

- São lindas. - ela cheirou as mesmas, e me olhou confusa. - Liam você ta bem?

- Não, eu não tô. Não tô porque minha consciência ta pesando por ter falado tudo aquilo pra você, por ter te abandonado nesse dia tão especial, não tá porque durante todo esse tempo eu te tratei como um erro, um vício, e não percebi que você é meu melhor acerto, que você é minha essência de vida, que você é tudo que eu preciso. Eu só vou ficar bem quando eu ter a certeza de que eu nunca vou te perder. - a essa altura meus olhos já marejavam, e os dela seguiam o ritmo. Lágrima por lágrima, caindo de vagar.

- Ora Liam, eu sou sua, você nunca vai me perder. - eu a abracei forte após ouvir essas palavras.

- Tem mais. - falei.

- O que? - fechei a porta atrás de mim, e pensei melhor no que eu estava prestes a fazer. Era o certo.

- Isa, você aceita se casar comigo? Você aceita ser minha futura esposa? - sua boca se formou em um grande "o", ela começou a chorar mais ainda e por um momento eu tive medo da resposta. Ela se ajoelhou comigo e me deu um forte abraço. - Isso foi um sim? - perguntei.

- SIM! YES! JA! SÍ! - ela respondeu e eu ri. Dando um beijo em seguida nela. O melhor acerto que eu já fiz na vida.